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7 de Ouros: quanto mais de perto se olha, menos se vê

Retornando às postagens depois de longos 9 meses de ausência. Uma gestação e um distanciamento necessário. Às vezes, como diz a personagem do "Truque de Mestre": "quanto mais de perto se olha, menos se vê".

E que tal que esta retomada seja com a própria carta de uma das cenas mais legais e interativas do filme?

7 de Ouros: quanto mais de perto se olha, menos se vê.


Com vocês, o 7 de Ouros !

A cena do filme trata de um truque em que a personagem principal nos pede para escolhermos "aleatoriamente" uma carta de um baralho enquanto ela é folheada rapidamente. Ficamos maravilhados e encantados com a revelação e nos perguntamos: como ele sabia?




Sim, ele sabia. Ele leu, sim, nossa mente. Mas não da forma mágica que acreditamos. Pura neurociência. Sabendo da necessidade do nosso cérebro de encontrar um padrão em todas as informações, ele trabalhou as sequencias das cartas de tal forma (os 7s), que nossa percepção naturalmente reteria apenas o último 7, o de Ouros. Óbvio, quando se sabe a resposta. Aliás, um ótimo livro!

Não poderiam ter escolhido carta melhor, no filme, para o sentido "mágico" que esta carta de fato tem.

O 7 de ouros trata de uma decisão em que quase não temos escolha. 

Temos que fazer uma escolha difícil, normalmente entre uma situação que desfrutamos hoje - de caráter financeiro, como todas as do naipe de ouros - e que é fruto do trabalho de toda uma vida, muitas vezes. Uma situação estável e na qual temos pleno domínio do que fazemos, dada a larga experiência adquirida nela e que também não apresenta grandes desafios. E uma situação nova, arriscada, mas que promete uma forte aliança com pessoas de muito poder. Nela, podemos nos projetar, fazer dinheiro, fama, glória, atingir um nível de sucesso que muitas vezes só ambicionamos em nossos sonhos. Com um preço, é claro. Trair um pouco quem somos, a 'mão' que nos alimenta, nossa natureza. Entrar no jogo, como dizem.

O interessante é que, por mais livre arbítrio que julgamos ter, não seremos nós que decidiremos o que fazer. A decisão desta situação vai depender, como no filme, do que nos marcou durante toda a nossa vida. A forma como lidamos com as frustrações, os medos, as dores, as lutas... é que, no final, decidirá por nós.  É nosso cérebro, nossa pré-programação dos valores que acabamos criando na vida. Se decidimos sempre pelo caminho fácil ou difícil. O fácil pode ser mesmo um emprego seguro, um local a que estamos acostumados a viver, a vida que sempre tivemos - e que trouxe, aliás, boas realizações, estabilidade, conforto. O difícil é sempre o risco, um trabalho para o qual não sabemos se teremos êxito, a complicada adaptação a novos locais e culturas, o novo estilo de vida. Mas que promete desenvolvimento.

Do ponto de vista moral, a decisão pode ser entre o emprego sem grande esforço, pela prova gabaritada, pelo casamento por interesse, pelo suborno que libera da multa, da fila, da cadeia... ou pelo caminho difícil do estudo, da ética, da disciplina, do emprego duro mas honesto.

A questão mais importante desta carta, no final, é saber o que estamos dispostos a sacrificar para conseguir o que queremos. Manter o status quo traz satisfação, mas retém em si o risco da estagnação e da obsolescência. Aceitar a proposta traz a incerteza do futuro, mas a semente de atingir o nosso potencial como nunca imaginamos.

Escolhemos pelo conservadorismo ou pela inovação? Por mais óbvio que seja, não é fácil diferenciar o que é de fato nossa escolha do quanto somos manipulados a escolher. Quem sabe a resposta, como sugere o filme, esteja em olhar a situação de forma distanciada. Aí, quem sabe, se possa enxergar o quadro todo.

Para quem não conhece a cena, vale dar uma olhadinha. Apesar do spoiler, a cena é mesmo incrível.


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